Portugal redescoberto como destino de investimento no MIPIM

Portugal redescoberto como destino de investimento no MIPIM

Portugal continua a ganhar força entre os investidores internacionais, com o seu setor imobiliário a mostrar resiliência, potencial de crescimento e uma forte colaboração público-privada.

No MIPIM, o maior encontro mundial de investidores e promotores imobiliários, os principais players presentes em Portugal subiram ao palco para discutir a evolução do panorama de investimento do país, enfatizando a sua estabilidade económica, previsibilidade regulamentar e oportunidades de mercado em expansão.

Durante a Portuguese Conference, organizada pela Iberian Property e pela APPII, Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, destacou a forma como Portugal tem sido redescoberto nos últimos anos. Embora as suas cidades sempre tenham sido atrativas, a eficácia do storytelling e a exposição internacional solidificaram a sua reputação como um mercado diversificado, estável e rico em oportunidades. Com o aumento do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), os investidores nacionais e internacionais estão a impulsionar a procura em várias classes de ativos, desde empreendimentos residenciais a industriais e relacionados com o turismo.

Luis Mota Duarte, Deputy CEO da Sonae Sierra, reforçou este ponto, enfatizando o crescimento económico sustentável de Portugal, com o PIB e o IDE a ultrapassarem a média europeia. A liquidez também se fortaleceu e o prémio de risco percebido está agora mais alinhado com os riscos reais do mercado, tornando as decisões de investimento mais transparentes e seguras.

De acordo com Inês Medeiros, Presidente da Câmara Municipal de Almada, Portugal está a assistir a uma importante mudança do turismo para a residência. Observou uma tendência crescente de pessoas que passam de visitar Portugal como turistas para o escolherem como um local permanente para viver. «A qualidade de vida é um grande atrativo, particularmente para as famílias jovens, e estão a ser feitos esforços para garantir que esta procura crescente seja acompanhada por soluções sustentáveis de desenvolvimento urbano e habitação».

Por seu lado, Anthony Lanier, Presidente da Eastbanc, salientou que, embora a dimensão relativamente mais pequena de Portugal possa ser vista como um desafio, também apresenta vantagens únicas. A pegada global do país, o posicionamento estratégico europeu e a elevada qualidade de vida contribuem para o seu atrativo como destino de investimento imobiliário.

Sinergias público-privadas e habitação acessível

As parcerias público-privadas continuam a ser um fator essencial para responder às necessidades de habitação. Claude Kandiyoti, Presidente da Krest Investments, e um investidor de longa data em Portugal, reconheceu que, embora o país tenha historicamente carecido de um impulso de desenvolvimento, a paciência e o investimento estratégico estão a começar a produzir resultados positivos.

Rui Moreira sublinhou ainda a importância das reformas do licenciamento na atração de capital, salientando a necessidade de transparência e previsibilidade no planeamento urbano. O Porto deu passos significativos na digitalização do processo de aprovação, garantindo eficiência e responsabilidade. Além disso, enfatizou a necessidade de uma mudança de perceção em torno da densificação, particularmente nas áreas industriais, onde o planeamento urbano estratégico pode criar espaços vibrantes e habitáveis.

Em Almada, a colaboração com os atores do setor privado é vital, tendo em conta os 30 km de rio e frente marítima do município. Inês Medeiros defendeu um pacto nacional de desenvolvimento urbano e uma reavaliação dos regulamentos europeus que podem não estar alinhados com as realidades locais. Sublinhou que para criar mais espaços verdes e públicos, as cidades devem também expandir-se verticalmente.

LuÍs Mota Duarte reforçou que os investidores dão agora prioridade aos critérios ambientais, sociais e de governação (ESG), sendo o setor imobiliário português líder em responsabilidade social através de iniciativas de Build-to-Rent (BTR) e de habitação a preços acessíveis. Embora estes projetos produzam tipicamente retornos mais baixos, o seu valor a longo prazo e o alinhamento com as expectativas dos investidores institucionais tornam-nos altamente atrativos.

Claude Kandiyoti partilhou a sua experiência em projetos de habitação a preços acessíveis em Bruxelas e manifestou um forte interesse em replicar tais iniciativas em Portugal. No entanto, referiu que encontrar o enquadramento correto para as parcerias público-privadas continua a ser um desafio. Apesar disso, a sua empresa tem vindo a consolidar ativamente um banco de terrenos, proporcionando um amortecedor para ultrapassar os obstáculos regulamentares e garantir o retorno dos investimentos em habitação a preços acessíveis.

Retrofit e sustentabilidade

O Porto está a adotar uma abordagem proativa à sustentabilidade, com 13% do seu parque habitacional propriedade municipal. Rui Moreira enfatizou o compromisso da cidade em reabilitar estes edifícios para melhorar a eficiência energética e as condições de vida, alinhando a acessibilidade com os objetivos de sustentabilidade. A redução do consumo de energia na habitação pública contribui para o bem-estar social, ao mesmo tempo que promove a responsabilidade ambiental.

Luís Mota Duarte concluiu que o posicionamento único de Portugal como um tema de «grande cidade num pequeno país» coloca o país como uma oportunidade de co-investimento atrativa para o capital internacional. Para além da localização, a liquidez e a diversificação das classes de ativos continuarão a moldar o sentimento dos investidores nos próximos anos.

O setor imobiliário português está a provar ser mais do que apenas um mercado emergente: é um destino de investimento maduro, sustentável e globalmente relevante. As discussões no MIPIM reforçaram o compromisso do país em promover a colaboração público-privada, a transparência regulamentar e a expansão urbana responsável. À medida que a acessibilidade, a sustentabilidade e a liquidez impulsionam a próxima fase de evolução do mercado, Portugal está pronto para acolher investidores de longo prazo que procuram tanto retornos financeiros como um impacto social significativo.

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